O início de outubro nos traz boas motivações adicionais para manifestarmos nossa posição em defesa da vida, ameaçada de diversas formas, inclusive a vida humana. Estamos no início da primavera, uma explosão de vida, de cores e beleza. O papa Bento XVI, na encíclica Caritas in Veritate, nos adverte sobre a importância de preservar a vida e o meio ambiente no planeta Terra, nossa casa comum (cf. n. 48-50). Cuidar bem da natureza e da nossa casa comum é questão de justiça e solidariedade para com os demais seres que povoam este belo e abençoado paraíso da vida, talvez único no universo; é questão também de justiça e solidariedade para com as futuras gerações, para as quais não deveremos deixar em herança um mundo estragado e sem condições boas de abrigar a vida.
A Igreja também recorda, no dia 4 de outubro, São Francisco de Assis, poeta e cantor da natureza; ele, santo e alma pura, não se deixou corromper pela ganância e o egoísmo, que matam a vida; por isso podia dizer “mãe terra” e reconhecer em cada criatura um irmão e uma irmã; ele se reconhecia como filho querido do Pai muito amado, que fez boas todas as coisas e as abençoou. Por essa mesma razão, também o Papa Bento XVI nos diz na encíclica citada acima que a questão ecológica não deve ser o sonho de alguns ativistas e sonhadores, mas um assunto que envolve nossa fé em Deus Criador e nossos deveres morais. Respeitar e defender a vida é prestar homenagem ao Deus da vida. O contrário seria ofensa ao Criador e pecado contra os irmãos.
A semana de defesa da vida, porém, tem um significado específico para nós: Manifestamos nosso grito de alerta diante dos desprezos, ameaças e agressões contra a vida humana e, assim, queremos desenvolver mais e mais uma cultura favorável à vida humana. De muitas formas a vida humana é desrespeitada e ameaçada: pela miséria, que não permite viver dignamente; pelos vícios, que estragam a saúde e roubam a vida prematuramente; pela violência difusa, de tantas formas, onde muitas pessoas perdem a vida de maneira trágica; pelo aborto, que ceifa um número assombroso de vidas inocentes e indefesas. Não podemos ficar indiferentes diante da cultura da morte, que faz, inclusive, negócios muito rentáveis com o comércio de morte! Lembramos a advertência do Papa Bento XVI, na Fazenda da Esperança, no dia 12 de maio de 2007, contra os que tiram lucros vultosos do comércio da droga: deverão dar contas a Deus pelas vidas que fizeram perder em decorrência desse comércio de morte!
Muito grave é a questão do aborto provocado. Há projetos de lei para legalizar esta prática, até mesmo para que possa ser realizada com dinheiro público! Há mesmo quem argumente que isso é um “direito humano”. Tirar a vida de seres humanos inocentes e indefesos seria um direito humano?! Fala-se em “despenalização”, ou “descriminalização” do aborto, ou em “interrupção da gravidez”, ou “parto antecipado”. São formas de linguagem que escondem a realidade, mas o objetivo e a dura realidade é a mesma: A supressão da vida de um ser humano inocente e indefeso. A interrupção da gravidez, ou o parto feito antes de certo tempo de gestação levam inevitavelmente à morte do feto, ou bebê. Espalhou-se o uso da pílula do dia seguinte (“método contraceptivo de emergência”), que também pode ser abortiva se já houve fecundação após uma relação sexual.
Há quem argumente pelo direito que as mulheres teriam para decidir sobre seu corpo; tratando-se de uma gravidez, há nisso um equívoco primário, pois o feto ou bebê que a mulher traz no seu útero não é parte do seu corpo, mas é um outro corpo, diverso do dela; melhor dito, é um outro ser humano, diverso dela; a natureza da mulher recebeu de Deus a bela e gratificante missão de acolher a vida, de dar-lhe condições para nascer, de amparar e proteger esta vida frágil. Evidentemente, se somos contrários ao aborto, não significa isso que queremos a todo custo o castigo das mulheres que, por alguma razão, o praticam. Mas como proteger a vida nascente, se o aborto fosse legalizado? A defesa da vida, além disso, também requer a cobrança das autoridades para que o Estatuto do Nascituro seja aprovado quanto antes e que seja usado o rigor da lei contra as clínicas clandestinas (ou pouco clandestinas), que exploram o comércio do aborto, para tirar lucros.
Além disso, a defesa da vida nascente também requer, de nossa parte, o amparo e a solidariedade para com a mulher que gera um filho, ou tem uma gravidez problemática, ou até indesejada. A medicina, a psicologia e a assistência social podem fazer muito por ela, sem precisar fazer o aborto; as organizações da Igreja podem estar ao lado dela para ajudá-la. A semana pela defesa da vida deveria ainda ser marcada por homenagens às mulheres grávidas, ou que têm filhos pequenos; elas prestam um grande serviço à humanidade! Em nossas igrejas poderiam ser realizadas celebrações especiais para elas, inclusive previstas no ritual de bênçãos.
Dia 8 de outubro, por iniciativa da CNBB, é o Dia do Nascituro em todo o Brasil. Seja um dia para dizer: Bem-vindos à vida! Felizes são as mães de vocês! Sejam abençoados e abençoadas por Deus!
Cardeal Odilo Pedro Scherer
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