1ª ESTAÇÃO: JESUS É CONDENADO À MORTE
NAQUELE TEMPO: CRISTO FOI CONDENADO
HOJE: JESUS CONTINUA A SER CONDENADO
O pecado do mundo, que matou o Filho de Deus, continua a matar os filhos e filhas de Deus. A paixão de Jesus se prolonga na paixão de nosso povo sofrido. Há por todas as partes sede de justiça, fome de equidade e ânsia de fraternidade. Procura-se criar as condições sociais, econômicas, políticas, pedagógicas e religiosas para concretizar a justiça ao maior número possível. Só assim a justiça deixa de ser mero desejo e começa a ser realidade concreta. Mas é também aqui que principiam os obstáculos.
2ª ESTAÇÃO: JESUS TOMA A CRUZ AOS OMBROS
NAQUELE TEMPO: JESUS CARREGOU SUA CRUZ
HOJE: JESUS CONTINUA A CARREGAR A CRUZ
Toda libertação e todo sofrimento verdadeiro no direito e na justiça reclamam um preço a ser pago. Essa cruz imposta aos já crucificados pela desumanização da vida é crime que não escapa ao juízo de Deus. Desde que, em Jesus Cristo, Deus mesmo foi crucificado na cruz, não há nenhuma cruz imposta injustamente que lhe seja indiferente. Ele é solidário com todos aqueles que pendem de uma cruz. A humilhação deles é também a sua. Não carregam a cruz sozinhos. Jesus a carrega com eles e neles. Mas essa cruz, por mais desagregadora que seja, é digna, porque é conseqüência de um compromisso digno, que é viver e lutar para que haja cada vez menos cruzes injustas para os outros.
3ª ESTAÇÃO: JESUS CAI PELA PRIMEIRA VEZ
NAQUELE TEMPO: JESUS CAIU PELA PRIMEIRA VEZ
HOJE: JESUS CONTINUA CAINDO
A história geralmente vem contada pelos que triunfaram. São eles que, para imortalizar seus feitos, guardam as memórias documentais, levantam monumentos e fazem cantar epopéias.
E a história dos vencidos e caídos, quem a contará? Eles são esquecidos. As ruínas e os sofrimentos deixados pelos arrivistas são recalcados, sua memória apagada e a culpa silenciada. Existe uma anti-historia dos caídos de cujo drama sangrento somente Deus conhece as verdadeiras dimensões. É o grupo de agricultores que se reuniu para defender o direito assegurado de suas terras e foi massacrado. São as tribos de índios que foram enxotadas de suas reservas e foram sendo dizimadas pela subnutrição e pelas doenças. São os operários de fábricas que, por reivindicarem salários mais justos, foram demitidos, perseguidos, e seus líderes, dados por desaparecidos.
Todos esses são caídos. É Jesus que, ao largo da via-sacra histórica, vai novamente caindo. Ele já ressuscitou e está na glória de seu Pai. Mas sua ressurreição não está completa, porque sua paixão na paixão de seus irmãos e irmãs ainda prossegue.
4ª ESTAÇÃO: JESUS SE ENCONTRA COM SUA AFLITA MÃE
NAQUELE TEMPO: JESUS SE ENCONTROU COM SUA MÃE
HOJE: CONTINUA O ENCONTRO DE JESUS COM MARIA
Maria continua se compadecendo de seus filhos e filhas, acompanha-os em seus sofrimentos, reconforta-os com seu olhar de compreensão, de apoio, de aprovação, como fez com seu filho Jesus. Na glória não fica indiferente ao drama dos seres humanos. Como em seu Magnificat, em que toma partido pelos humildes contra os orgulhosos, pelos pobres contra os prepotentes, continua a suscitar mulheres corajosas que se empenham na realização da justiça e na superação das discriminações impostas secularmente à mulher.
5ª ESTAÇÃO: SIMÃO CIRENEU AJUDA JESUS A LEVAR A CRUZ
NAQUELE TEMPO: SIMÃO CIRENEU AJUDOU JESUS
HOJE: SIMÃO CIRENEU CONTINUA A AJUDAR
Nunca faltarão neste mundo espíritos grandes e abnegados que, embora pertencendo a uma classe social mais beneficiada, se solidarizem com aqueles que estão por baixo, façam corpo com suas esperanças e sofram com suas penúrias. Haverá sempre Simões Cireneus, feitos pessoas, feitos classes inteiras, que se prestarão a carregar a cruz do Jesus que sofre e quase sucumbe nas vidas de milhões de trabalhadores e de oprimidos.
6ª ESTAÇÃO: VERÔNICA ENXUGA O ROSTO DE JESUS
NAQUELE TEMPO: VERÔNICA ENXUGOU O ROSTO DE JESUS
HOJE: VERÔNICA CONTINUA A ENXUGAR O ROSTO
Os homens piedosos sempre perguntaram: Onde encontramos Deus? As religiões demarcaram os principais lugares e situações privilegiadas na quais podemos encontrar Deus: na oração, na interiorização, na vida simples e ascética, no serviço desinteressado ao próximo. Os cristãos sabem que encontram Deus na Igreja, em seus sacramentos, nas palavras sagradas das Escrituras, no encontro fraterno e no amor ao próximo.
O manto de verônica nos recorda, pelos séculos afora, a face do Filho do Homem, feito Servo sofredor. Enxugando o rosto do irmão atormentado pela paixão dolorosa da vida, estamos enxugando o rosto de Jesus que continua a se apresentar dolorido à compaixão amorosa dos homens.
7ª ESTAÇÃO: JESUS CAI PELA SEGUNDA VEZ
NAQUELE TEMPO: JESUS CAIU PELA SEGUNDA VEZ
HOJE: JESUS CONTINUA CAINDO
Há tantos que foram de tal forma golpeados pela vida e sofreram tão clamorosas injustiças que não conseguem mais crer na esperança. Outros foram tão profundamente marcados pelas desgraças, especialmente aquelas provocadas pela maldade humana, que se tornaram céticos e incapazes de aceitar um sentido para a história global. Há os que entregaram os pontos, se cansaram de sublimar, desistiram de esperar e se renderam aos impulsos rudimentares da vida, do prazer e da autodestruição por algum vício. Há um exército de irrecuperáveis, considerados peso morto da história.
Jesus, que foi considerado “a escória da humanidade”(Is 53,3), faz corpo com todos esses. Neles ele continua caindo. É no chão que Jesus os encontra e é aí que quer salvá-los.
8ª ESTAÇÃO: JESUS EXORTA AS MULHERES DE JERUSALÉM
NAQUELE TEMPO: MULHERES CHORAVAM POR JESUS
HOJE: MULHERES CONTINUAM A CHORAR POR JESUS
Se não tivermos um espírito de discernimento, estamos condenados a repetir a mesma tragédia ao largo da história. Assim existem grupos, especialmente dos estratos opulentos da sociedade, que utilizam o símbolo da cruz e o fato da morte redentora de Cristo para justificar a necessidade do sofrimento e da morte e impedir que os oprimidos façam ouvir os clamores das injustiças e as lamúrias de sua humilhação. O apelo à morte redentora do Senhor quer ocultar a iniqüidade daqueles que, precisamente por suas práticas e interesses egoísticos, provocam a cruz e a morte nos outros.
9ª ESTAÇÃO: JESUS CAI PELA TERCEIRA VEZ
NAQUELE TEMPO: JESUS CAIU NOVAMENTE
HOJE: JESUS CAIRÁ SEMPRE
Há muitos que vivem distantes de Deus por seus pecados. Sofrem porque gostariam de estar na proximidade da graça e não conseguem. Caem e recaem. Um mecanismo pecaminoso os envolve e os atira continuamente à mesma iniqüidade. Converter-se-iam se lhes fossem dadas a força e as condições da liberdade. Estes não estão longe de Deus nem do reino. O reconhecimento humilde de sua situação de que os pode lançar nas mãos misericordiosas do Pai. Estão por terra, mas não se afogou a esperança.
10ª ESTAÇÃO: JESUS É DESPOJADO DE SUAS VESTES
NAQUELE TEMPO: JESUS FOI DESNUDADO
HOJE: JESUS CONTINUA A SER DESNUDADO
O ser humano pode, mesmo violado, conferir um sentido à sua desgraça. Não se deixa vencer e tomar pelo mal: vence o mal pelo bem; pode oferecer a vida como perdão aos inimigos e como sacrifício para Deus. O mártir de outrora podia dizer, face aos que lhe infligiam torturas: “Estas não são torturas, impostas por causa de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas são unções”, pois “no caminho da libertação a morte é a mais sublime festa”. Nesses vilipendiados é vilipendiado Jesus Cristo, que está sofrendo com os homens até o final dos tempos.
11ª ESTAÇÃO: JESUS É PREGADO NA CRUZ
NAQUELE TEMPO: JESUS FOI CRUSCIFICADO
HOJE: JESUS CONTINUA SENDO PREGADO NA CRUZ
Não há estações suficientes nesta via dolorosa que possam retratar todas as formas pelas quais o Senhor continua sendo perseguido, aprisionado, condenado e novamente crucificado. Mais que sofrer, Jesus prossegue o seu oferecimento aos irmãos e a Deus, continua a perdoar e persiste em amar a todos até o fim.
12ª ESTAÇÃO: JESUS MORRE NA CRUZ
NAQUELE TEMPO: JESUS MORREU ABANDONADO NA CRUZ
HOJE: JESUS CONTINUA MORRENDO NA CRUZ
Quem se coloca no seguimento de Cristo se compromete a participar de sua vida e de seu destino. Como Jesus, entende a existência não como algo a se gozar egoisticamente, mas como serviço aos outros, especialmente aos mais necessitados. Esse serviço pode implicar o sacrifício pode implicar o sacrifício da própria vida, como expressão de amor e de liberdade.
13ª ESTAÇÃO: JESUS É DESCIDO DA CRUZ
NAQUELE TEMPO: MARIA CHOROU SEU FILHO
HOJE: MARIA CONTINUA CHORANDO SEUS FILHOS
Diante do corpo inerte do tombado e transpassado pelo empenho numa causa justa, o espírito experimenta que está remetido a um maior que impede o triunfo absurdo. Deve ter um sentido último, definitivo e assegurado para aquele que morreu pelos outros, que escolheu para si o mais difícil por amor da justiça dos pobres e preferiu a morte violenta em lugar da vida sem dignidade.
14ª ESTAÇÃO: JESUS É DEPOSITADO NO SANTO SEPÚLCRO
NAQUELE TEMPO: JESUS FOI SEPULTADO
HOJE: JESUS CONTINUA A SENDO SEPULTADO
Todos os que morrem sacrificados como Jesus, por amor a uma vida mais digna, herdam a plenitude da vida. São como o grão de trigo que, ao morrer, produz vida e, ao ser enterrado, rompe o chão e cresce. É por causa deles que a história continua com suas esperanças e o reino de Deus ganha credibilidade. A plenitude da vida implica a ressurreição.
15ª ESTAÇÃO: JESUS RESSUCITA PARA A VIDA PLENA
NAQUELE TEMPO: A RESSURREIÇÃO COMO TRIUNFO DA JUSTIÇA
HOJE: A RESSURREIÇÃO ESTÁ ACONTECENDO
A quem crê na ressurreição não é mais permitido viver triste. A vida dolorosa do Filho de Deus e de seus irmãos, pelos tormentos deste mundo, tem sentido um sentido certo. Somos destinados e chamados a viver plenamente, alegres na esperança, confiados no amor e reconciliados com o mundo, com os irmãos e com Deus. Já antegozamos a presença do reino, enquanto ansiosamente esperamos a ressurreição da carne e a vida eterna.
Amém