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lunes, 26 de julio de 2010

Quando Madre Teresa me servia o café da manhã

Por Renzo Allegri

Em muitas partes do mundo estão em curso manifestações em memória do centenário do nascimento de Madre Teresa de Calcutá, celebrado em 26 de agosto. Grandes cerimônias estão sendo preparadas na Índia - país onde a Madre viveu a maior parte de sua existência terrena e onde está sepultada - e na Albânia, onde nasceu, mas inúmeras iniciativas de menor porte estão previstas nas paróquias e associações voluntárias de todo o mundo, organizadas principalmente pelos jovens, para lembrar esta figura extraordinária.
Ao lado de Padre Pio e João Paulo II, Madre Teresa foi uma das pessoas que marcaram profundamente a história do cristianismo de nosso tempo. Padre Pio, com a chama de sua altíssima experiência mística; João Paulo II, com o vento impetuoso de sua ação e suas constantes viagens apostólicas; Madre Teresa, com o amor, desprendido e absoluto, pelos mais necessitados. Seu exemplo e seus ensinamentos inspiraram crentes e não crentes, e permanecem vivos ainda hoje.

Todos os que conheceram Madre Teresa guardam lembranças extraordinárias. Especialmente aqueles que tiveram a oportunidade de viver próximos a ela. Mas também os jornalistas que dela se aproximaram em seu trabalho. Nós, jornalistas, graças à nossa profissão, nos vemos próximos de todo tipo de personagem. Por quarenta anos, fui enviado especial de grandes jornais, tendo a oportunidade de conhecer e entrevistar um incontável número de pessoas famosas: artistas, políticos, cientistas, atletas, divas do espetáculo, assassinos e santos.

Graças a uma série de estranhas coincidências, tive diversos encontros com ela, longas conversas, viagens de automóvel em sua companhia. Posso dizer que desenvolvi por ela um profundo afeto, e que ela demonstrava tal benevolência, que de minha parte considerava uma amizade – algo que eu, em minha vaidade superficial, por vezes tirei proveito, pedindo-lhe favores que eu mesmo julgava impossíveis, mas que a Madre, em sua infinita bondade, sempre encontrava um meio de me contentar.

Incrível. Estou certo de que todos aqueles que estiveram próximos de Madre Teresa puderam constatar sua amorosa disponibilidade. Era certamente uma grande santa, mas também uma mulher de uma sensibilidade deliciosa, de uma boa vontade tão grande que se sentia triste quando não conseguia atender a algum pedido.
Escrevi muitos artigos sobre Madre Teresa, e também alguns livros. Neste momento, para o centenário de seu nascimento, reuni em um pequeno volume, publicado pela Editrice Ancora, algumas memórias e, principalmente, algumas de suas palavras; não gostava muito de falar. Mas, quando o fazia, era fascinante em seu modo essencial e incisivo de expor seus pensamentos. Fala preferivelmente por meio de imagens; seus argumentos eram uma sequência de fatos que levava a uma conclusão inevitável.

O título de meu livro é “Madre Teresa me disse” (“Madre Teresa mi ha detto”); um título pretensioso. Talvez somente alguém que tivesse de fato vivido em Calcutá ao lado da irmã pudesse usar um título como esse, mas este não é meu caso. Conheci Madre Teresa, entrevistei-a em diversas ocasiões, e nada mais. Porém, como já disse, somente por sua benevolência, me sentia muito próximo a ela, e este título, “Madre Teresa me disse”, reflete de fato uma extraordinária realidade.

Em 1965, lendo um livro de Pier Paolo Pasolini, encontrei algumas linhas dedicadas à Madre Teresa, a quem o escritor havia conhecido durante uma de suas viagens à Índia. O fato de Pasolini ter sido tão profundamente tocado pela irmã atiçou minha curiosidade. Foi o primeiro contato. Passei a recolher informações, e cada novo dado minha curiosidade aumentava.

Decidi então que devia encontrar e entrevistar aquela freira; algo que só foi possível após uma espera de 15 anos. Mas não se tratou apenas de uma entrevista, e sim de uma série de encontros.

Os aspectos que mais me impressionaram de imediato foram sua enorme sensibilidade e sua bondade ilimitada. Eu era um jornalista com outro qualquer, na prática um incômodo que a fazia perder tempo; mas mesmo quando eu divagava em perguntas talvez inúteis e pouco pertinentes, jamais vi um mínimo sinal de desaprovação de sua parte.

Quando estava em Roma e pedia para vê-la, ela me recebia no convento no Celio, onde se encontra a Casa das Missionárias da Caridade, por ela fundada. Ela dizia: “Te aguardo amanhã de manhã, às cinco e meia”. Neste horário havia a missa reservada às irmãs, e a Madre desejava que, antes de falar comigo, nos uníssemos por alguns instantes em oração. Chegava sempre pontualmente e encontrava, à porta do convento, uma irmã que já me aguardava e então seguíamos para a capela. Participava da missa ao lado da Madre, que permanecia ajoelhada no chão, no fundo da capela; para mim, porém, ela pedia uma cadeira. Do lugar onde ficava podia observar todas as irmãs e também a Madre, que não fazia nada de especial; ficava encolhida de joelhos, concentrada em oração silenciosa, como se não existisse. Mas justamente daquela posição de anulação física, transmitia uma energia poderosa, despertando infinitas considerações que horas de conversa não seriam capazes de sugerir.

Após a missa, a irmã que me recebera me acompanhava até uma saleta no interior do convento, onde, infalivelmente, chegava Madre Teresa pouco depois, trazendo nas mãos uma bandeja com o café da manhã. Madre Teresa me servia o café; fazia questão de fazê-lo e não permitia que nenhuma outra irmã o fizesse. Na primeira vez, me senti embaraçado, e fiz menção de impedi-la, dizendo não estar com fome e nunca ter fome de manhã. Ela percebeu meu constrangimento, mas não havia como impedi-la; serviu-me com um comovente amor materno. Café, leite, marmelada, biscoitos. Aquela sua atenção falava mais que as entrevistas. Em seguida, após o café da manhã, ela me concedia seu tempo. Eu tomava minhas anotações com as perguntas, ligava meu gravador, e ela respondia.

Ouvindo novamente estas gravações, me dei conta de que algumas de minhas perguntas eram realmente estúpidas, inúteis e superficiais, mas ela respondia com calma, levando a conversa para temas importantes ou ressaltando, em determinados fatos, o aspecto no qual residia um ensinamento importante.

Como disse, quando passei a me sentir mais íntimo da Madre, pedi-lhe favores talvez pouco pertinentes à sua condição de religiosa.

Certa vez lhe perguntei se aceitaria ser madrinha em um batizado. No Natal de 1985, Al Bano (Albano Carrisi), o famoso cantor de Puglia, foi pai pela terceira vez: era uma menina, Cristel. Somos muito amigos, desde o início de sua carreira, e ele é padrinho de batismo de um de meus filhos. Em maio de 1986, Cristel já estava com cinco meses e ainda não havia sido batizada; sabia que Al Bano tinha uma sólida e concreta fé. Indaguei então por que ainda não havia batizado sua filha. Me respondeu que adiara a cerimônia de batismo porque não desejava que o rito religioso se transformasse num evento público, com fotógrafos e jornalistas, com ocorrera em seu casamento; queria uma cerimônia religiosa privada, e me pediu que o ajudasse a organizá-la, de preferência em Roma.

Falei então com o bispo eslovaco Dom Pavel Hnilica; uma pessoa extraordinária, também ele um santo, amigo pessoal de Madre Teresa; foi ele que me apresentou à irmã. Perguntei-lhe se poderia batizar a filha de um amigo, perguntando também se seria possível ter Madre Teresa como madrinha. “Não acredito que consiga”, disse o bispo, “mas te aconselho a pedir diretamente a ela; é uma mulher imprevisível”. A Madre estava em Roma. Me enchi de coragem e fiz o pedido; ela me fitou séria por um tempo, e em seguida disse: “Como religiosa, não posso assumir esta responsabilidade jurídica. Mas posso fazê-lo como madrinha espiritual”. E assim foi. O batismo foi celebrado na capela privada do bispo. Somente um fotógrafo estava presente, e as fotografias foram mais tarde distribuídas gratuitamente, sendo publicadas até no Japão.

Dois anos mais tarde, em agosto de 1988, alguns amigos me contaram uma história muito comovente. Um jovem casal de um país próximo ao Lago de Bracciano teve gêmeos quíntuplos. Como costuma ocorrer nestes casos, os bebês permaneceram um longo período na incubadora, e foram salvos graças ao grande amor de seus pais e ao empenho dos médicos. Quando finalmente deixaram o hospital, pensou-se logo nos batismos. “É preciso fazer uma grande festa”, diziam os amigos do casal. Um deles me pediu que organizasse algo que atraísse a atenção dos jornais. Pensei em Madre Teresa. Tinha a certeza que ela, ao saber da história, aceitaria. E assim se deu. A cerimônia foi realizada na antiga capela de Santa Maria di Galeria. Cada um dos cinco bebês tinha seu próprio padrinho, conforme estabelece a Igreja, mas todos tiveram Madre Teresa como sua “madrinha espiritual”. A Madre, embora tão atarefada, dedicou metade daquele dia ao batizado. Os jornais, naturalmente, cobriram o evento, publicaram fotografias e foi uma grande festa.

Quando penso na Madre, a imagem que me vem à mente é dela em oração. A primeira vez que viajei de automóvel em sua companhia, tive a honra de sentar-me ao seu lado. Íamos da Casilina, na periferia de Roma, onde há uma casa das “Missionárias da Caridade”, ao Vaticano, onde a Madre seria recebida pelo Papa.

O automóvel partiu em alta velocidade; estávamos atrasados, e não se podia fazer o Papa esperar. Madre Teresa olhava a paisagem pela janela; seu olhar era sereno. Após alguns minutos, pediu-me que a acompanhasse em suas orações. Fizemos o sinal da cruz, e ela, com um rosário nas mãos, iniciou as orações em voz baixa, recitando o “Pai Nosso” e a “Ave Maria” em latim. Nós orávamos com ela.

Enquanto o automóvel acelerava, nervoso, através do tráfego caótico e intenso, freando bruscamente e se precipitando perigosamente nas curvas; eu mantinha-me agarrado à manopla da porta. Madre Teresa, ao contrário, estava completamente absorta em suas orações e mal se dava conta do que ocorria.

Encolhida sobre seu assento, estava em diálogo com Deus. Seus olhos estavam semi-cerrados. Seu rosto rugoso, reclinado sobre o peito, estava transfigurado; parecia quase emitir luz. As palavras das orações saíam de seus lábios precisas, claras, lentas, quase como se se detivesse para saboreá-las uma a uma. Não tinha a cadência de uma fórmula continuamente repetida, e sim o frescor de uma conversa viva e apaixonada. Parecia realmente que a Madre se dirigia a uma presença invisível.

Certa vez lhe perguntei, de surpresa: “Tem medo de morrer?”. Estava em Roma por alguns dias e quis visitá-la antes de retornar a Milão. Ela me fitou por algum tempo, como se quisesse compreender a razão da minha pergunta. Pensei ter feito mal em mencionar o tema, e tentei mudar de assunto. “A senhora me parece descansada”, disse. “Ontem me parecia muito cansada”. “Durmi bem esta noite”, respondeu ela. “Nos últimos anos, a senhora sofreu cirurgias delicadas, como a do coração; deve se preservar, viajar menos”, disse. “É o que todos me dizem, mas devo pensar na obra que Jesus me confiou. Quando não servir mais, será Ele quem me fará parar”.

E, mudando de assunto, perguntou-me “Onde mora?”. “Em Milão”, respondi. “Quando volta para casa?”. “Espero que ainda esta noite. Quero tomar o último avião, para que amanhã, sábado, possa estar com minha família”. “Ah, vejo que está feliz em voltar para casa, para sua família”, disse-me sorrindo. “Estou fora há quase uma semana”, respondi para justificar meu entusiasmo. “É natural que esteja feliz. Vá encontrar sua esposa, suas crianças, sua casa. É certo que seja assim”.

Permaneceu em silêncio por alguns instantes e então, retomando a pergunta que havia feito, prosseguiu: “estarei feliz como você se pudesse dizer que morreria esta noite. Morrendo, irei para casa também eu. Irei ao paraíso. Irei me encontrar com Jesus. Consagrei minha vida a Jesus; ao tornar-me freira, tornei-me a esposa de Jesus. Veja, tenho neste dedo uma aliança, como as mulheres casadas; fui desposada por Jesus. Tudo o que faço aqui nesta terra, faço por amor a Ele. Assim, ao morrer, voltarei para casa. Para meu esposo. Além do mais, no paraíso, encontrarei todos os que me são caros. Milhares de pessoas morreram nos meus braços. Já são mais de quarenta anos dedicados aos doentes e moribundos. Eu e minhas irmãs recolhemos nas ruas, principalmente na Índia, milhares e milhares de pessoas prestes a morrer. Nós as trouxemos às nossas casas e as ajudamos a morrer serenamente. Muitas delas espiraram em meus braços, enquanto eu sorria para elas e acariciava seus rostos trêmulos. E quando morrer, reencontrarei todas estas pessoas. Lá, estão à minha espera. Quem saberá a festa que farão ao rever-me? Como poderia temer a morte? Eu a desejo, a aguardo, porque finalmente me possibilitará voltar para casa”.

Em geral, nas entrevistas ou nas conversas, Madre Teresa era concisa, dando resposta curtas e rápidas. Mas naquela ocasião, diante de minha estranha pergunta, ofereceu-me um verdadeiro discurso. E enquanto me dizia aquelas coisas, seus olhos brilhavam com uma serenidade e uma felicidade surpreendentes.

Fonte: ZENIT

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