O cenário eleitoral está projetando luzes sobre as escolhas que serão feitas nas eleições deste ano - e também acerca dos líderes que, corajosamente, põem seus nomes para serem sufragados nas urnas. Em questão não está apenas o juízo que se pode emitir sobre os nomes que deverão preencher cargos no Executivo e Legislativo. Sem dúvida, este é um capítulo fundamental no processo eleitoral. Não se pode “comprar gato por lebre”. Nesse sentido, é fundamental que os candidatos se mostrem e se deem a conhecer nos seus pensamentos e posições, fora da ribalta do marketing que os emoldura defensivamente e das maquiagens que ajudam muito na amostragem de feições e de contornos que podem não corresponder à realidade.
Os debates são importantes para o conhecimento indispensável na elaboração de critérios nas escolhas a serem feitas. É necessário conhecer bem o candidato, sua posição a respeito de temas pertinentes, como a defesa da vida, a justiça, o aborto, os direitos humanos. Não basta emoldurar o candidato apenas no bojo da ideologia partidária, com suas inconsistências próprias, nem somente respaldar o candidato pelos feitos, tomado como garantia de que ele será bom por isso. Cada etapa da história supõe, portanto, respostas próprias e novas e precisa contar, para além daquilo que já se fez, com a competência própria daquele que se propõe a governar e a representar o povo.
Este desafio está posto à sociedade que precisa aplicar critérios mais exigentes aos nomes que estão sendo oferecidos neste pleito eleitoral. Na verdade, as eleições de 2010 representam mais uma oportunidade para evidenciar traços muito peculiares da cultura brasileira no exercício da liderança e no âmbito das escolhas que determinam caminhos novos para a sociedade e suas instituições. O evento das eleições se findará com os resultados que vão determinar rumos na sociedade brasileira na próxima etapa de sua história. Importa também emitir juízos a respeito da cultura subjacente no exercício da liderança e o que dá consistência às escolhas da sociedade.
O momento eleitoral explicita muitas inconsistências e porosidades existentes na nossa cultura quando se trata de escolhas e de líderes. Lembra “sol forte em monturo depois da chuva”. Além de juízos a respeito de nomes a serem sufragados, a oportunidade nos convida a refletir, avaliar e ter novas compreensões sobre a prática da liderança. Ainda é comum atrelar o exercício da liderança com a distribuição de benesses e favores. Há líderes obsoletos que continuam, em muitas circunstâncias, perpetuando a mentalidade coronelista própria dos antigos fazendeiros e senhores de engenho. Estes líderes não reconhecem e não são capazes de lidar com as novidades das compreensões corporativas na condução de processos – independentemente da instituição em que se encontram, religiosa, política, pública, privada, são todos semelhantes. A visão é da manutenção de dinâmicas que perpetuam, na condição de refém, os destinatários das benesses e favores, na contramão da liberdade e da autonomia como características inegociáveis da cidadania deste tempo. O tecido cultural no desempenho das lideranças na sociedade brasileira ainda está enrijecido por presenças e atuações que estão atravancando os necessários avanços. Ainda existe uma mentalidade que luta para manter funcionamentos e dinâmicas que, ilusoriamente, pretendem conservar domínios que são em si arcaicos. Ainda existem tentativas de perpetuar modelos de lideranças que já não contam mais e que se mantém à custa da mediocridade dos que não ousam mudanças e ainda sonham com retornos irrealizáveis. A prática obsoleta da liderança, presente na cultura subjacente da sociedade contemporânea, é responsável pelo envelhecimento de instituições, seu uso em proveito próprio e dos seus correligionários e familiares. No cenário nacional é fundamental avaliar, criteriosamente, os contextos sociais e institucionais - onde estão os prejuízos cometidos pelos líderes que entortam escolhas e perpetuam um “modus vivendi” contrário às necessidades e expectativas da sociedade.
Este momento eleitoral, além de eleger nomes, precisa projetar nova cultura nas escolhas e nos líderes, avançando em conquistas condizentes com a história do povo brasileiro.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte
No hay comentarios:
Publicar un comentario